Jogar Assassisn Creed 3 foi uma tremenda frustração em torno de variados problemas que a franquia tem devido a sua tradição e forma de cada jogo ser construído. Falar mal ou das falhas de qualquer projeto de jogo é a parte mais fácil de quem se intenda a escrever uma crítica sobre jogos. O que a maioria de nós, jogadores, criticos e mídia especializada acredita ser saudável é fazer exatamente o que a maioria faz, falar mal e exaltar os erros desses projetos. Então o esforço e o trabalho dessa crítica, e sim a parte complicada desse texto, é tirar o joio do trigo de uma obra que tem sim pontos positivos e negativos já bem conhecidos.
Vamos aos erros, que é a maior parte das críticas.
Problemas de câmera e sua movimentação voltaram. Independente da versão, Xbox, PS3 ou PC, os controles não são bons. O tempo das legendas, mesmo em inglês é horroroso, não foram poucas as vezes que percebi erro de sincronia da legenda com o que estavam falando nas animações. Os mapas foram construídos de forma estranha e as famosas torres de observação, antes não complicadas de serem alcançadas, ficaram bem chatas de se alcançar, além de terem diinuído em números.
A movimentação dos personagens (protagonistas da versão) pelos cenários é um lamento. Lento e demorado. De montaria até melhora mas o problema de controlar o trote dos cavalos é um soluço atrás do outro. O sistema de batalhas é falho e estranho. Além de cansativo o velho conhecido padrão de ataque e defesa não tem muitas diferenças além do correr, mirar e defender que não define qual é o personagem a ser atacado ele apenas trava em um e vai. Ao menos foi simplificado para aumentar as possibilidades de se defender.
Parece que a UbiSoft, até então, não queria fazer concessões aos ajustes necessários nesses quesitos pois vieram das versões anteriores (Brotherhood e Revelations) pois já havia mostrado eficiência o bastante para garantir sucesso comercial da franquia. Realmente, o tradicionalismo impera em time que está ganhando. Então, mesmo depois dessa ode aos equivocos, onde estão os acertos dessa versão?
Antes dos acertos vamos aos outros detalhes.
Continuando a história de Desmond Miles, o jogo conta o final de sua incursão de Assassino com suas escolhas e desafios para terminar o trabalho que Abstergo começou e se esforçava para concluir. Ao reencontrar Minerva e Juno, diversos dilemas e problemas são levantados, acarretando no desfecho das ações de Desmond. Em um determinado momento, ele passa pelo Brasil, e essa foi uma surpresa e tanto, porém para os Brasileiros uma perda de tempo, mal representada e pífia participação de nosso país/povo num jogo internacional.
No quesito participação não tenho do que reclamar mas no quesito gráfico, ao menos as publicidades da estação e do estádio – que representam o país – poderiam estar em português (ou do Brasil ou de Portugal), o que não estavam e é meramente um detalhe mas que me deixa na corda bamba em falar de forma positiva ou negativa a respeito desse trecho. Na percepção local, as críticas são até fundamentadas e poderiam ser evitadas mas como o cenário faz parte do roteiro, querendo ou não, todo o mundo passou pelo Brasil em Assassins Creed 3.
Uma parcela considerável do jogo se passa em cenários com neve ou no inverno e nesse ponto, a equipe trabalhou bastante pra deixar verossímil. Andar, correr, cavalgar ou fazer movimentos rapidos fora das trilhas, onde a neve é fofa e densa, realmente deixa a imersão mais interessante. Evidente que poderiam melhorar outros aspectos mas nesse detalhe a equipe fez algo realmente bom. E mantiveram a possibilidade de nadar. Em certas missões só nadando mesmo pra sair de problemas ou alcançar objetivos...
Fatos curiosos sobre o cenário no Brasil.
Ter cartazes do Desmond de procurado, em inglês, no meio da estação, isso não é natural aqui.
Na estação, que representa São Paulo, mesmo no verão, não é comum ver mulheres de biquini por lá.
Se fosse um estádio de futebol com aquele público todo na porta do espaço de jogo seria bacana mas é um estádio de luta, tipo MMA, outro detalhe que mostra o quão não natural, ao real, o cenário é.
Tem mistura de línguas que é estranha, os guardas da Abstergo falam em inglês – OI? Como assim? - com brasileiros, que alguns correm e falam, em português, que o carinha do cartaz de procurado está naquele espaço. Isso não faz sentido algum...
No trecho dos becos, tem 2 brasileiros conversando sobre uma transa entre um casal e o sotaque das personas beira a um espanhol mal pronunciado, com português de angola e carioquês que percebe-se ser dublado e forçado. Poderiam ter pesquisado melhor o dublador.
O esforço da dublagem é louvável e pelo original, mesmo em inglês, ter trechos dublados em um pseudo português do Brasil, também é relevante.
Tiroteio num lado da arquibancada, privativa, do estádio, com os arredores bem cheio de gente, sem causar alvoroço algum é tão irreal em qualquer lugar como seria um estádio de MMA no Brasil.
Todas as reclamações juntas, sobre o cenário de SP, faz jus as críticas dos brasileiros.
Enfim, meros detalhes...
Terminando o que foi começado...
Para quem começou uma nova franquia, lá no jogo de 2007, poder terminar a trajetória de Desmond era o final de uma era de diversos sucessos. Para alguns bem questionáveis, para outros um sonoro declame de "Jogue! Vale muito!". Mesmo com seus altos e baixos, acertos e erros, e equívocos que levaram a produtora a dizer que o jogo não seria anual, o que acabou virando, a fez passar por variadas sequencias que mostraram para onde um jogo deve e não deve seguir.
Tentaram, da sua forma, fazer algo parecido com Kingdom Hearts, intrincada, complexa, complicada e fragmentada franquia de jogos de RPG japoneses que demorou mais de 10 anos pra terminar a história principal. Devido a sucessos anteriores entretanto só comprovou como o time vitorioso dos jogos passados não necessariamente teria e seria o mesmo sucesso de seus irmãos maiores. Existe uma máxima na indústria criativa que diz "3º filme? 3° Jogo? Sem ser uma droga total, muito provavelmente não será tão bom quanto os outros foram..." e realmente essa máxima imperou.
Ao passar por protagonistas diversos, em épocas distintas, a franquia Assassins Creed mostrou que existem muitos locais, momentos e períodos pertinentes para se contar como os dois grupos, Assassinos vs Templários, podem virar mocinhos ou vilões a qualquer momento, dependendo apenas do roteiro e intenção do jogo e é aqui começam as coisas boas do jogo...
Infelizmente, mesmo com arco e flechas à mão do protagonista, até mesmo a franquia Zelda ou Elder Scrolls conseguiram ser mais eficiente no uso dessa arma tradicional do que o jogo. Ponto positivo por existir mas poderá ser ignorado pois é mais um acessório estético do que útil. A machadinha é util.
Uma das missões, ao menos a que percebi como sendo uma das mais difíceis, felizmente é curta. Atravessar o campo de batalha com um pelotão inteiro te atirando e explodindo bombas a cada 5 segunds foi tensa. Essa realmente causa estresse no jogador.
Os acertos da versão...
Começar como um Templário, que protegeu um grupo de Índios, e por um acaso do destino teve seu filho, com uma nativa americana, sendo um mestiço dos dois povos, virar um assassino ou templário deveria ser uma escolha do jogador mas foi do roteiro levar o protagonista aos assassinos.
Controlar um 2° protagonista, filho do personagem inicial, também foi interessante. O que nos leva ao que Assassin’s Creed Syndicate fez posteriormente, onde 2 personagens são controlados ao mesmo tempo.
Ao controlar um Templário, também nos leva aos acontecimentos de Assassin’s Creed Rogue (spoiler), que realmente dedica sua história a um meio assassino e meio templário. Essa personagem estava na busca por um autêntico credo mas percebeu que não depende de filiação para ter seu próprio credo.
O final do jogo, em ambas as situações - dentro e fora do Animus - é um tanto estranho. (eta spoiler do final da obra) Ao menos o jogador pode completar suas missões posteriormente aos creditos pois o jogo volta de onde Connor parou, mesmo que Desmond se sacrifique.
O vilão da história não ser quem se pensava ser foi uma boa surpresa. No início se imagina uma personagem e no final é outro. Mesmo que durante o jogo o vilão apareça em determinados momentos, indicando quem é, demora um certo tempo até saber em quem mora o grande problema da história. A maneira de terminar com o vilão foi algo inovador, mesmo sendo forçadamente construído.
Controlar grupos de soldados, durante a guerra americana, melhorando, diversificando e expandindo o que Revelations fez anteriormente foi uma inovação.
Ter um navio disponível para usar, mesmo em percursos pré definidos, com batalhas náuticas e de fortes, foi uma ótima adição ao contexto de veículos que o jogo, até então, não tinha. O que nos leva ao mapa de Assassin’s Creed 4 Black Flag, que volta no tempo e nos leva aos primórdios da família dos protagonistas do 3° jogo e ao protagonista do Rogue que nos leva ao controle de um templário (boas ideias merecem suas próprias histórias).
Dublagem continua boa e realmente usar a língua dos Ameríndios foi uma forma bem bacana de representar um dos povos do jogo mas, como já dito, nos leva ao contexto do cenário brasileiro não ter um bom português na língua comum e nem nas publicidades do cenário tem a nossa língua escrita, porém a plaquinha de Metrô, sim esta tem um famigerado aceto. Cadê a lógica?
Ter a língua original de um dos povos nativos da América, não é tão estranha quanto escutar um Coreano ou Japonês pela primeira vez, e vejo como um acerto que se repetiu no jogos seguintes em cenários ou momentos específicos que serão percebidos. Um acerto de que se repetiu e se consagrou.
Conclusão…
Não é o melhor dos jogos da franquia. Mesmo com seus defeitos e erros, mostra uma certa coerência com o que a franquia se propõe a fazer: visitar diversos locais do mundo, por motivos diferentes enquanto se visita épocas distintas das sociedades humanas, mostrando hábitos e culturas bem diferentes das atuais.
Separar o joio do trigo, neste jogo, mostra qual foi o caminho que a franquia seguiu depois do 3°. Os acertos foram repetidos e melhorados, criando novas incursões históricas, curiosas e memoráveis.
Terminar com o pseudo e provisório fim de Desmond, mas não de suas memórias, neste jogo mostra o quanto a franquia se desgastou no passar dos lançamentos e que precisava de renovações boas e merecidas que vieram posteriormente.
Caminhar entre a tradição dos jogos anteriores onde acertos foram mantidos e erros pontuais permaneceram e novas coisas estranhas e mal vindas também deram as caras, a opção de jogar o AC3 é apenas um mero detalhe. Se for para fazer uma escolha: não o jogue como sendo um jogo maravilhoso pois ele passa longe disso mesmo com seus acertos.
Ao final fica aquela sensação de: paguei caro para essa estranhesa. Sim é o gosto insosso de uma obra feita com certa pressa e com a falta de polimento característico dos jogos anteriores que acaba por prejudicar seu brilho. Como deveria ser, tempo de lançamento comercial e polimento são coisas que andam em ritmos distintos, independente do projeto e da versão de uma determinada franquia. Dê tempo ao tempo para que as coisas podem sair melhores que o planejado pois se apressar no processo de maturação das ideias e propostas, o produto prede o ponto e deixa a desejar.
Até o próximo jogo.
Ass.: Thiago Sardenberg
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