Traduzindo ao pé da letra, No man’s Sky – Living Universe pode significar O céu de ninguém, universo vivo. É um jogo de exploração espacial onde só existem dois objetivos: 1) chegar ao centro da galáxia e 2) descobrir mais sobre o Caminho de Atlas. Mas, para entender o que está acontecendo, vamos por partes…
Um pouco de história
O jogo é uma produção da britânica Hello Games com foco no PC mas que foi expandido para a plataforma da SONY, na época o PS4. Lançado em 2016 fez muitas promessas para um jogo de baixo orçamento no início, mas com cara de AAA e que passou por maus bocados durante a produção. Além de ter sido adiado inúmeras vezes (muito parecido com o que ocorreu com The Witcher 3), o estúdio também sofreu fisicamente com as chuvas que ocorrem na Inglaterra historicamente no período de janeiro e teve que recorrer ao trabalho remoto enquanto seu espaço era secado, literalmente, devido as fortes enchentes no local de origem, obrigando seus funcionários a trabalharem de suas casas. Neste ponto, bem antes de 2016, a Hello Games já havia prometido várias coisas interessantes mas que não havia como entregar todas elas. Eis que entra em jogo a SONY e investe pesados recursos para que o lançamento do projeto ocorresse de forma exclusiva e temporária no PS4, sem que a produtora perdesse os direitos autorais sobre o seu projeto (algo parecido com a franquia Destiny da Bungie). Após alguns anos o jogo também recebeu versão para o XBOX ONE e se tornou multiplataforma.
Após o lançamento, capado e sem uma série de recursos prometidos pelo estúdio, a aceitação foi de mista para o irrelevante e a produtora precisou recuperar tanto o tempo perdido, por fatores externos, quanto a confiança do público sobre o que havia dito a respeito do jogo antes do lançamento. A primeira mudança foi levar o projeto a frente e receber de braços abertos os comentários dos jogadores com o que estava bom e ruim podendo assim melhorar a proposta. Depois foi colocar todos os DLCs programados de forma gratuita para todos os compradores do jogo, algo inédito até então. E por ultimo, acrescentar de tempos em tempos, novos conteúdos e opções extras que o projeto original não tinha como receber ou por falta de tempo ou de pessoal até o lançamento. E a opção de câmera em 1a ou 3a pessoa, deixando ao jogador qual escolher. Além disso tudo, a famigerada correção dos bugs que todo jogo tem que receber. Era muito trabalho.
Gênero do jogo
É um jogo de aventura e exploração com mistura de tiro e naves de combate espacial que pode ser jogado individualmente (insano mas possível) ou em grupos (se houver conexão na plataforma que jogar). No caso estou jogando offline no PC porque não gosto de jogos multiplayer mas o multiplayer acrescenta missões e facilidades de se resolver algumas missões específicas de forma mais rápida com recompensas melhores.
Mecânicas
Correr, pular, mergulhar, flutuar, planar, voar, escanear (animais, objetos e minerais), escavar, coletar coisas na superfície dos planetas, conversar, construir bases, contratar ajudantes, comprar e vender itens, reparar naves (vender e comprar), explorar os sistemas (a galáxia é enorme e vai demandar tempo para se achar tudo que for possível sozinho), batalhar contra piratas, conversar com comerciantes e muitos outros NPCs de 3 raças diferentes (e descobrir como conversar com eles explorando suas línguas e acumulando novos vocabulários delas) e principalmente viajar para além da imaginação serão suas ações constantemente. A frase clássica de “audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve” lá de Jornada nas Estrelas nunca foi tão tangível. Aqui o fã de Guerra nas Estrelas, com usar os Sabres de Luz ou a Força pra resolver seus problemas, não tem como sobreviver. A Força não existe e o que lhe sobra são os contratos de mercenários e comércio.
Belezas do jogo
A imensidão da galáxia é assustadora. Existem as estrelas verdes, amarelas, vermelhas e brancas, algumas delas só alcançáveis por naves com motores específicos, que podem ser exploradas e tem planetas orbitando. Alguns sistemas chegam a ter 7 planetas e suas Luas enquanto outros tem apenas 2 fazendo com que cada sistema seja diferente do anterior e do seguinte. Existe também os buracos de minhoca e os buracos negros (ainda não vistos por mim) que aparecem no mapa estelar mas não foram mapeados ainda, e planetas, muitos planetas para se escanear e explorar.
Se pensar que Assassins Creed Odyssey ou Origins são grandes, pode pensar em algo muito maior (mesmo que o peso em disco seja de apenas 10GB de tamanho). Cada planeta tem sua fauna, flora e minérios (por isso o jogo tem o nome de Living Universe ou Universo Vivo) e itens para se acumular, vender ou guardar para se criar outros.
São bem poucos os planetas com um único ser vivo predominante (já passei por um) ou impossível de se aterrissar (teve um que passou dos +350° Celsius, insano). Alguns poucos têm ambiente aquático. Outros são venenosos (no caso tóxicos) ou quente (ao ponto de não poder ficar mais de 5 minutos fora da nave). É comum os muito frios (temperaturas de -60° Célsius) mas essas temperaturas baixas costumam ocorrer nas Luas. Ainda nesses ambientes podem ocorrer as famigeradas tempestades onde ou há um aumento de temperatura ao limite da armadura ou uma queda brusca de temperatura que obriga o jogador a voltar a base ou nave rapidamente porque se torna impossível a permanência no lado de fora de um ambiente controlado.
A base que construí para resolver alguns problemas está num planeta onde a temperatura média geral é de -55 Celsius no verão. A Sibéria, na Rússia, é fichinha perto desse pedaço de rocha.
Nos planetas ainda temos animais que podem nos atacar, uns robôs voadores que são as sentinelas com o objetivo de proteger determinadas regiões ou bases, uma variada queda de meteoritos e, de tempos em tempos, um conjunto de naves que passam buscando uma base ou estação na superfície para realizar comércio. Também podem aparecer na superfície dos planetas um encouraçado destruído que precisa ser restaurado para liberar um item específico e contém fragmentos de uma das muitas histórias do jogo. Além dos postos avançados tempos bases isoladas, torres de exploração de recursos, bases espaciais (que ainda não as vi), e ruínas.
Do lado de fora, enquanto aparecem naves saindo da velocidade interplanetária, podem aparecer piratas atirando pra tudo quanto é lado, fragmentos de rocha espalhados que podem ser destruídos para gerar novos minerais e combustível, naves passando e se comunicando para realizar comércio, estações espaciais para se visitar e comprar itens dos mais diversos (existe uma estação principal para cada sistema planetário do jogo) e a bizarrice do projeto: sons passando no vácuo.
Tudo bem que, dentro de todas as coisas que o projeto se propõe a apresentar, com a quantidade enorme de coisas que se pode fazer, com o pé no chão que ele é para mostrar como as coisas são (na forma humana de ver que são) é até aceitável que os sons passem no vácuo. Mesmo que saibamos que isso nunca há de ocorrer.
Sonoplastia
Não existe dublagem apenas sons estranhos que os NPCs fazem para demonstrar que estão falando. Se lembrar do jogo The Sims com o linguajar deles ou de Banjo Kazooie com o animalesco que os protagonistas falam, já dá para imaginar que é um jogo baseado nos textos.
Até onde eu vi em vídeos do multiplayer online do jogo, o sistema de conversa por áudio existe e funciona bem entre os jogadores que optarem por essa forma de jogar.
As naves sim, grandes ou pequenas, essas tem muitos barulhos. Os menus, existem muitos deles, tem barulhos curiosos. As armas, os animais, o caminhar, o correr, o atirar, o voar, o mergulhar, sim isso tudo tem som específico e organizar isso tudo deu bastante trabalho a produtora que fez um trabalho incrível neste quesito.
Existem também as músicas. Mas em um jogo desses? Onde a exploração é tão evidente e o viajar de planeta em planeta deveria ter música? Sim. Existem músicas. Algumas são como barulhos de fundo, só para constar, outras indicam que o jogador está com problemas (nos combates elas se tornam evidentes) mas, na maioria dos casos, ela é apenas barulho de fundo.
Quem avisa amigo é
Para os desavisados de plantão que gostam de sair testando tudo quanto é jogo novo de FPS que sai no mercado: vai poder sair atirando e metralhando a tudo e a todos desde o início sim, mas pode ir saindo de fininho da sala porque esse jogo não é Battlefield ou CoD com componente multiplayer de combate pra testar habilidades. Pode fazer isso? Até pode mas vai ser recomendado? Não porque a finalidade é outra. O social exploratório da proposta é imperativa e vai forçar o jogador a descobrir pra onde ir a cada novo planeta ou sistema que chegar. Pensar pra onde ir vai ser algo mediano, algumas horas sim outras nem tanto. Vai ser só reação e vida que segue.
História principal e considerações
O jogo é longo. Foram 4 meses jogando, pouco mais de 2 horas por semana, quando possível, para poder aproveitar um pouco do que a proposta tem. A exploração e o acúmulo de dinheiro vão ser coisas constantes. Tem naves e itens que só se consegue ou comprando ou explorando muito. E por ser algo muito longo abre espaço se descobrir o que há por trás dele.
Existem apenas duas linhas de história: ou o jogador busca o caminho ao centro da galáxia (o que por si só já será longo) ou faz a busca do outro trajeto que é o Caminho de Atlas (um personagem que indica que existe um mistério por trás do jogo e que pode ser descoberto).
A partir dessas duas linhas todas as outras acontecem sem muito destaque além. O que prende o jogador nas partidas é o mistério que existe por trás desses personagens ou do Atlas ou dos piratas e sentinelas que estão espalhados pelos sistemas.
Em um determinado ponto aparece uma entidade que precisa de ajuda para encontrar o Atlas e sua nave espacial auxilia o jogador com diversos recursos para se acessar e poder construir novas bases, melhorar as armas e armaduras, os itens disponíveis para se equipar e usar com maior precisão ou facilidade.
O que chama a atenção, neste ponto, é a quantidade de extras que são liberados no decorrer do jogo. Ao abrir novas estações, novos planetas e se completam novas missões, outras portas vão se abrindo para se explorar mais a fundo cada planeta e sistema. A galáxia é o seu limite. Não são os tradicionais pontos de experiência, como acontece nos jogos de RPG, que a experiência ocorre por aqui pois ela não existe assim. A experiência de jogo fica no fator tempo. Quanto mais longa é a jogatina e mais tempo o jogador se prende a explorar e descobre as coisas mais a vontade de querer continuar se torna evidente.
Uma jogatina de 30 minutos nunca será o bastante para se conseguir coisas mas umas 2 horas seguidas isso leva a novas descobertas constantemente.
Conclusão
Se teve a oportunidade de jogar algo parecido com Metroid Prime (qualquer um dos jogos) onde a mecânica de escanear, para coletar dados a fim de aumentar as informações de lore do jogo for sua praia está aí uma opção. Quer atirar em tudo que pode e sair correndo dos inimigos? Esse jogo também te permite fazer isso. Quer sair viajando por sistemas e planetas e descobrir novos mundos, novas civilizações? Este não é o seu jogo porque ele só tem 4 civilizações mas todo o resto de explorar e descobrir que o torna fascinante sim isso pode. E como todo bom jogo do gênero open world, que te deixa a vontade para explorar e descobrir segredos encantadores esse jogo é algo a se considerar.
Ter falhas é normal, Skyrim e LA Noire são bons exemplos do open world cheios de falhas e principalmente muitos espaços vazios e sem nada pra fazer o jogador passará sobre. Literalmente isso. Uma imensidão de vazios será seu maior companheiro. E quando digo vazio é vazio no sentido literal. Enquanto estiver na superfície de um planeta procurando itens ou viajando entre planetas com viagens de 2 horas (é possível reduzir isso para minutos), ou quando precisar viajar por portais para outras localidades (cada estação estelar é interligada ao sistema geral que só se acessa depois de chegar ao sistema com sua nave), ou esperar a nave de buscas retornar de uma missão de 4 horas. Enfim. É preciso tempo para se aproveitar o jogo.
Uma das maiores surpresas, pra mim, foi deixar o loading das coisas (texturas, objetos e partículas) na mudança de sistema via portal ou entrando e saindo da atmosfera dos planetas. O jogo dá uma engasgada nessas horas mas é possível perceber que ele está fazendo a transição de informações internamente. Uma forma bem interessante de onde colocar as coisas pra funcionar.
Também não será nada incomum perder um dia inteiro jogando. A possibilidade do jogo demandar isso não é por um acaso mas caso queira ter um gostinho bem particular do que ele tem de melhor foque-se num único sistema solar. Explore muito. Descubra tudo o que puder. Enriqueça antes de partir para a próxima missão e vá viajar.
É o tipo de jogo que combina muito bem com o 3DS, Switch ou Steam Deck porque vai precisar de muito tempo pra jogar. E quanto maior for a portabilidade que seu dispositivo permitir melhor para a experiência ser a mais enriquecedora. Até agora já ‘perdi’ mais de 100 horas de jogo e não cheguei a 10% de tudo o que ele tem. Tem chances de ser o jogo que mais joguei até hoje. E esse recorde é para Phantasy Star Online com 330 horas no antigo Nintendo Game Cube. Se quiser saber mais, clique aqui para ler um dos primeiros texto de jogos desse blog. Lá se vão alguns anos de análises e outras cossitas más...
OBS: Para entender a piada ‘no men’s land’ é uma expressão da língua inglesa que faz a alusão a ‘terra de ninguém’ característico do período do velho oeste americano ou game of thrones.
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