Vou contar uma história diferente...
A área de design tem seus desafios, mas ensinar design tem seus problemas. Design não é só desenhar ou usar um programa ou usar as fotos, que existem aos montes, para gerar resultados. Design é gerar soluções para diversos problemas que existem no nosso mundo.
Esse trabalho começou num dia de sala de aula onde tinha que falar sobre linguagens visuais e informações fotográficas para uma turma de 60 alunos entre 17 e 21 anos. Além de ter um problema de espaço em sala de aula (só cabiam 32 na sala que estava) ainda precisava fazê-los trabalhar. Além de sacrificar a aula expositiva, foquei em um trabalho em dupla onde um escrevia sobre si mesmo e o outro desenharia sua dupla a partir do que ela escreveu.
Os resultados foram bem diversos e a maioria dos alunos passou por alguns “problemas” bem característicos. Os principais problemas foram...
1°: alegavam que não sabiam desenhar. Isso é um erro. Todos nós sabemos desenhar. Desenhamos letras, números e muitas formas geométricas diferentes (curvilíneas ou retas).
2° alegavam que não eram criativos. Uma outra postura bem padrão. Por experiência própria e a constatação no conhecimento dos outros, muitas pessoas acham que ser criativo depende de criatividade. Ser criativo é preciso entender como certas rotinas, ações e trabalhos podem ser alterados para durarem menos ou cansar menos, ou causar menos repetições. Mas para ser criativo é preciso entender os processos que regem a diversidade de trabalhos que temos e infelizmente, a repetição é a única forma de gerar memória, ou seja, gravar o processo.
3° NUNCA alegaram mas ficou evidente logo no primeiro contato, pela observação de muitos, que os alunos tinham medo das ferramentas e maneiras de se trabalhar com elas (e isso foi em 2011 quando estava fazendo um curso ao qual queria ser monitor de turma). Esse sim é um problema e bem grave. A adaptação as ferramentas depende muito mais do interesse dos alunos em querer aprender a como usa-las para chegar a algum resultado do que saber fazer o uso certo dela.
Hoje dependemos muito mais das tecnologias digitais do que antes e a tendência a piorar é uma infeliz faceta da nossa realidade. As pessoas que alegam “precisamos voltar aos patamares de 10 ou 20 anos atrás” estão passando por um processo de saudosismo onde era talvez mais fácil fazer certas tarefas que hoje ou não existem ou não são bem remuneradas como antes.
Independe da época, o saudosismo, as resistências individuais e os conflitos de gerações serão inevitáveis. E foram dessa memórias e vivências na resistência dos alunos que passam por minhas salas e aulas que o trabalho da pós sobre “A importância da memória na aprendizagem” teve um efeito diferente.
Aplicar a uma turma de adultos, onde os mais novos já passam dos 26 anos e os mais velhos beiram 60 anos, foi um esforço tremendo e juntar a isso o processo de lembrar da infância não é muito fácil. A justificativa? Foi o que fez a professora perguntar “de quem é essa citação?”
Fica o texto e ao final o autor...
"A memória é o fator primordial para reconhecimento do que é o mundo ao nosso redor. Reconhecer familiares e objetos são nossas primeiras impressões do que faz o mundo. Quando a criança percebe que o lápis ou a caneta marcam o papel descobrem que podem usa-los para outras coisas (principio do ato de desenhar). A escrita é um processo repetido desde o inicio da educação e sendo usada para alfabetizar as pessoas.
Aprender a escrever é aprender a desenhar as letras, os algarismos, os símbolos fonéticos e os símbolos complementares da escrita padrão. Enquanto os desenhos são, muitas vezes, abdicados da “vida” cotidiana da sala de aula a escrita é muito usada para tudo.
O ato de Desenhar é alfabetizar o cérebro ajudando-o a reconhecer linhas e curvas das formas dos objetos que existem no nosso cotidiano. Escrever é desenhar, desenhar é mostrar o mundo que se conhece a partir das formas das coisas do nosso dia-a-dia. Aprender a desenhar é igual a aprender a escrever, basta repetir os mesmos princípios dos processos que regem aquele trabalho gerando memória, inclusive memória muscular, e ficando mais fácil com o tempo..."
Ass: Thiago Sardenberg
Essa citação não foi procurada ou copiada, fui eu que escrevi para um trabalho.
Agradeço muito ao trabalho por me proporcionar uma vivência humana e mais direta com as pessoas as quais falo todos os dias e fico muito mais feliz pelo grupo que trabalhou comigo na pós por ter aceitado essa "dinâmica de grupo" com uma atividade porque já havia sido definida e quando aplicada ao tema sugerido, serviu como uma luva. Na surpresa do inesperado e na necessidade de gerar mudanças e novas experiências a memória e o conhecimento de qual turma iria precisar ministrar foram fundamentais para chegar em algum resultado... Muito obrigado.
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