terça-feira, 25 de outubro de 2016

A indústria de jogos pelo olhar de um professor de jogos... Parte 1


Certa vez, em um antigo trabalho que fiz numa escola, tive a oportunidade de fazer uma entrevista (responder algumas perguntas da área de jogos) para uma revista de outro estado. Na ocasião foi uma surpresa e tanto e fiquei sorrindo de orelha a orelha. Hoje nem lembro o conteúdo das perguntas porém lembro do contexto. Qual a vantagem dos cursos de jogos?

As perguntas? Realmente não tenho lembranças de nenhuma delas mas a minha chefe, na época, me impediu de responder essa e outras perguntas (e me interrompeu nessa explanação de opinião) “porque haviam outras pessoas para responder” palavras dela em sala de aula. Minha opinião com relação a atitude dela? Irrelevante na época e continuará sendo irrelevante pois não faz parte do assunto abordado.

Agora, depois de mais de um ano e meio do ocorrido abre-se uma oportunidade, no blog, para deixar claro algumas das minhas opiniões sobre os cursos de jogos que existem no país (livres, curtos, técnicos, graduação, pós e por aí vai...)

Qual é a sua dúvida? Fazer um curso técnico ou partir para a graduação? Ser um profissional da Arte ou um bom líder de programação? Gosta de música, sonoplastia e dublagem ou roteiro e história? A indústria dos jogos conta com mais de uma opção de trabalho para se chegar no processo produtivo de um jogo. Algumas dessas vagas são bem genéricas enquanto outras muito específicas. Independente de qual área trabalhar, o foco é nos jogos digitais, os games.

1 - é uma Indústria! Ou ela vende e dá lucro ou teremos mais desempregados

Deixando claro desde o início: vídeo games, faz parte de duas enormes indústrias contemporânea da nossa realidade. A do áudio visual e entretenimento (internet, cinema e TV como os principais), e a de tecnologia (internet de novo, equipamentos e programação).  E por ser uma indústria, ressalto: é preciso gerar lucro! Faz parte gerar lucro! Para poder continuar a fazer esse e outros projetos que podem e deve gerar novos lucros. Caso contrário a indústria para, as empresas quebram, os clientes não compram e uma gama enorme de diferentes profissionais especializados serão demitidos e passarão fome.


2 – O Brasil faz parte do mundo e ser um especialista não te trará trabalho mais caro

Em todas as áreas e possibilidades de trabalhar nessa indústria, mostradas no texto anterior, tem níveis de especialização e a indústria dos jogos tem esses níveis bem definidos. Mesmo sem um nível de especialista é possível trabalhar nela? Sim. Ser um profissional genérico é mais fácil te alocar em algum trabalho. É fácil? Nem um pouco.

Ser um especialista é ter garantia de salário bom no fim do mês? Nem sempre. Lá fora, pode aqui no Brasil é mais complicado ainda. Por que criar conteúdo que tenha alguma chance de ser vendido é mais difícil ainda e o nosso público consumidor já está acostumado a olhar o ‘produto de dentro’ sempre como pior e ‘o de fora muito’ melhor, porém chega muito lixo de fora e acabamos consumindo porque ‘é de fora e é melhor!’ e só nisso já é um engano.

Temos bons exemplos de produtos nacionais agradáveis e de sucesso que passam batido pelos consumidores porque ainda somos muito poucos os que produzimos aqui dentro para nós mesmos e acabamos por focar no consumidor lá de fora pois é onde o retorno financeiro mora e faz valer o esforço de se trabalhar para fazer novos jogos.

3 – Onde eles trabalham precisa pagar as contas da casa

A maioria dos profissionais ou estão em empresas já estabelecidos ou em trabalhos rápidos para outros estúdios (de vários tamanhos diferentes e geralmente estrangeiros) para não deixar de trabalhar nessa área.

Como geralmente, devido ao fator diversão, a indústria dos jogos é vista como “a indústria dos sonhos” e mesmo que fulaninho ou sicrano tenham “conhecidos” que ganham dinheiro nessa indústria, na prática não é uma tarefa das mais bem vistas, aqui no Brasil. Lá fora tende a ser um pouco diferente porém com problemas de vários tipos.

Assim temos muitos profissionais no mercado que se encontram nos seus trabalhos oficiais no tempo normal deles (de 8 as 18 e muitos trabalham aos sábados para complementar a renda). São publicitários, artistas, escritores, advogados, marqueteiros, professores, músicos, produtores culturais, programadores, analistas de sistema, vendedor... são muitas áreas juntas que nem sempre são a melhor escolha mas é a que paga as contas no fim do mês. Isso é importante e tem muito peso nas escolhas de qual trabalho fazer.


4 – Trabalhar com jogos não significa ficar jogando o tempo todo

Várias, incontáveis vezes, já ouvi alunos reclamarem, conhecidos soltarem pérolas, pessoas diversas que ouviram alguém dizer “mas você só joga vídeo games!” quando alguém comenta que TRABALHA com jogos.

São 3 grandes áreas que participam da produção: Programação, Visual e Sonoplastia. Cada uma com suas vertentes de trabalho e profissionais dedicados. Passaram anos estudando para fazer o que fazem de melhor. Sobrando poucas áreas para se trabalhar fora das principais mas não são tão pequenas quanto se imagina ou leva a crer.

Legalização, contratos de trabalho (direitos trabalhistas), direitos do consumidor (o cliente que vai pagar pelo o jogo quer algo bom e sem erros), publicidade e marketing (as vendas), distribuição e publicação (quem vai enviar os jogos para as lojas e qual loja vai vender), desenvolvimento de tecnologias (game engines, programas de arte, programas de música)...

Eu acho que jogar talvez seja uma das poucas coisas que esse pessoal todo vão fazem no trabalho de produção até porque existem “jogadores profissionais” e/ou “testadores de jogos” para verificar e ressaltar problemas técnicos e de execução do projeto que os profissionais da produção não conseguem perceber por estarem focados em outros trabalhos ou momentos cruciais do processo produtivo desses jogos.

5 – É um profissional: precisa ter seu tempo de descanso e com a família respeitados 

Ser produtor de jogos não significa jogar o tempo todo. Muitos são profissionais de áreas direta ou indiretamente ligadas e que trabalham tanto quanto os profissionais da linha de frente. Tem família, viagens pra fazer, contas para pagar, amigos para receber e visitar, estudos para completar, filhos para cuidar... Jogar é o que o cliente que compra o produto vai fazer, quem produziu talvez nunca tenha parado para jogar porque não era a função dele naquele projeto.



6 – A chefia falou: “O cliente pediu e é assim que vai ser!”

Muitas vezes os profissionais da linha de frente, a produtiva, vai querer colocar uma ideia maluca ou um projeto dele na frente do projeto que o cliente contratou para ser feito. Até porque, todo novo projeto é uma oportunidade para se tentar fazer coisas que ainda não foram feitas ou o estúdio pode fazer mas não teve condições de executar.

Porém, tanto os diretores, quanto os clientes, quanto os consumidores, geralmente, são pessoas mais tradicionais e bem fechadas em suas regras de comportamento e bem regrados nas suas classes sociais. Que costumam ter nos seus valores sua própria forma de ver o mundo e o que consumir todos os dias.

Só nesse comportamento, bem humano, temos uma série de restrições a qualquer projeto imaginável. Se o cliente quer o produto igual ao jogo de maior venda do ano passado, ou o que gera maior renda na maior quantidade de celulares possíveis, infelizmente, o projeto terá que seguir o que o cliente / contratante pede e a equipe acaba por ficar atrelada a volatilidade e as intempéries que sabemos existir.

Sugerir sempre será uma opção mas não a mais importante. No final de cada mês, é preciso pagar as contas (do estúdio e das casas dos funcionários dele) e se o contratante quer o jogo parecido com o COFFEE Shop do vizinho ou o Futebol do campo de terra da esquina ao lado, é ele quem vai decidir o que é melhor para o público dele. Sobrando aos profissionais uma única alternativa em aceitar para não morrer de fome.

Se chegou até aqui espere, semana que vem tem mais e não se desespere, o link vai ficar aqui!

Pois esse texto irá continuar na próxima semana.
Fique atento.
Até lá.

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