terça-feira, 25 de outubro de 2016

A indústria de jogos pelo olhar de um professor de jogos... Parte 2


Se chegou até aqui e não sabe do que se trata, leia o texto anterior aqui!

Afinal: O que é trabalhar com jogos?
É uma atividade profissional como qualquer outra. Precisa gerar lucro e custa muito caro.

Para quem tem interesse em trabalhar na área é bom saber:
- Vai receber pouco no inicio e vai ralar muito.
- Vai se afastar de festas, de parentes, de amigos, e muitas vezes vai querer desistir.
- Vai fazer muitas horas extras, se estressar, dormir menos do que deveria e mais do que espera.
- Vai estudar enquanto se dorme, dormir enquanto se desloca (ônibus ou trem é vantajoso).
- Vai ter muito pouco tempo para si mesmo.

Em qualquer início de carreira essas situações são bem corriqueiras mas quando se trabalha com o foco nas vendas de produtos e desejos dos consumidores, o trabalho costuma ficar um pouco mais complicado de ser realizado com o devido sucesso.

O que muitos querem conseguir de primeira, muitas vezes, ignora a parte mais importante, o processo produtivo que fará do produto M ou N ou S chegar ou não no consumidor final.

Nenhuma das grandes empresas ou megaproduções chegaram ao estrelato sem passar por um rigoroso processo interno de qualidade e adaptação para ter uma chance real de ver a luz do dia e virar um produto que gere uma boa venda as empresas e aos funcionários.

Todo grande jogo ou console precisa de tempo para maturar, crescer e ter suas bases bem definidas e esse tempo, sim, é longo e custa muito caro.

Um dinheiro que muitos não querem investir (pelos riscos) ou não podem (por não ter mesmo) sobrando para poucas e seletas empresas fazerem esse trabalho acontecer.

Apple, Nintendo, Microsoft, Sega, SNK, Sony, Atary, Tec Toy (uma empresa brasileira), todas elas tiveram seus consoles em algum momento. Algumas pararam de produzir outras continuaram e sabem e entendem bem seus consumidores. Só uma é do século XIX as outras, todas elas nasceram no século XX. Se não conhecerem seus clientes, fazer consoles será perda de tempo e principalmente de muito dinheiro.


Como professor de jogos que vê a área, parte de dentro e parte de fora, indico algumas coisas:

- Faça o que mais gosta, se esforce muito e tenha sempre um foco (ou projeto, ou empresa, ou nível de trabalho) para alcançar. Com a devida dedicação (e um foco) sua chance vai chegar em algum lugar é mais visível e realista. Eu cheguei nela e estava sem expectativa nenhuma de trabalhar na área mas nunca parei de ‘estudar’ alguma coisa que me fizesse aprender coisas novas.

- Treine muito sua paciência. Tenha em mente que não é na 1°, ou na 2° ou na 3° vez que o sucesso ou o emprego dos sonhos chegará até você. Se não for chamado, alguém melhor estava disponível. Vai lá e aprenda a fazer melhor. Mesmo que erre ou demore, faça sua parte!

- Não é possível saber tudo mas entender o que o outro passa ajuda a trabalhar melhor. Seus problemas e defeitos são seus mas os dos outros também são importantes mas para eles.

- Se for de uma área não relacionada, comece por baixo. Faça cursos livres e depois os técnicos. Aos poucos se vai longe e consegue o que se deseja, mesmo que demore (comigo foram quase 10 anos até chegar onde me sentisse bem e feliz, mesmo não recebendo tanto por isso, estou feliz com o que faço e me sinto bem com essa escolha).

- Cursos técnicos não são inferiores a graduação. Muitas vezes são nesses cursos técnicos que aprendemos mais rápido e com um foco maior muito mais sobre uma área que não sabemos. A graduação é boa para quem quer um conhecimento mais detalhado de alguma coisa ou área e prefere trabalhar com essa escolha em nível intenso por muitos anos.

- Se forme no nível que escolher para depois definir uma outra ou nova área. Se for programação e não gostar foque na arte ou na música. Se for de arte que você não gosta, foque na programação ou na música. Se áudio não é a sua preferência tente algo mais tradicional (direito, administração ou contabilidade, todas as empresas precisam dessas áreas juntas trabalhando com ela para chegar onde se quer/espera).

- Ache o ponto de equilíbrio. Só se consegue alguma coisa boa depois de alguns anos estudando e aprendendo, principalmente, o que não se gosta de fazer para se conseguir entender e saber o que se gosta de fazer. Querer ficar fazendo, por muito tempo, o mesmo trabalho é o extremo da repetição e é inevitável dentro dos processos de trabalho. Um especialista só existe porque sabe fazer bem um determinado grupo de trabalhos bem específicos e não erra.

- Acima de tudo, nunca deixe de aprender. Detesto estudar, te juro, mas adoro aprender. Coisas novas, ou irrelevantes. Coisas que não fazem parte do dia-a-dia da profissão mas que me ajudam a sair da rotina do trabalho repetitivo, me ajudam a pensar e a gerar novas formas de focalizar nos meus objetivos ou até mesmo em descobrir novos objetivos. Ser professor hoje foi uma surpresa. Não imaginava ganhar o que ganho hoje e principalmente me imaginava em outra atividade econômica.

- E pesquise muito. Até sair algo que vale alguma coisa, esforço é o ponto mais em comum a todas as profissões que existem no mercado. Menos de 10% da população do mundo nasceu em berço de ouro e não sabem fazer metade do que é preciso para fazer o mundo rodar. Faça o mundo rodar e não a roda virar, pois ela já existe e está sendo usada, sem você precisar se mover para fazê-la funcionar.

Até a próxima semana.
Ass.: Thiago Sardenberg

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