Para quem jogou os originais sabe que a franquia tem muitos pontos interessantes. Passear por referências da mitologia e descobrir como reconstruir uma história cheia de reviravoltas é um dos grandes trunfos dos games e God of War faz isso com certa facilidade.
Atenção o texto tem SPOILERS, leia a bel prazer e risco.
1 – O final da jornada do Espartano contra o Olimpo
Na sequência certa de jogos, a franquia começa com uma iminente derrota de Kratos para um rei Bárbaro mas, no meio do caminho, a promessa de força e vitória do Deus da Guerra, feita pelo Espartano, durante um confronto, o consagrou a vitória porém o levou ao desespero e arrependimento de seus atos no decorrer dos anos de devoção e servidão aos deuses olimpianos.
Dessa forma o personagem principal descobre que o problema não é com ele, somente, e sim com os Deuses do Olimpo. Eles não querem perder seus poderes e seus tronos. A dura realidade que um mortal tem em ser um ‘filho’ de um Deus, forjado em batalha, para ser um servo da guerra destes deuses é a pior dor possível, principalmente depois de trucidar sua família (parte da história do 1° jogo). Para um pai, perder para si próprio sua família, é uma reviravolta tremenda.
No caminho de sangue que o personagem passou e a franquia se tornou, a trilogia termina com a escalada de violência no limite da raiva e da sede de vingança do Espartano contra os deuses. Apesar de não ser uma clássica tragédia grega não tem como um mortal vencer um deus porém, todos eles, isso é a pior tragédia grega possível.
2 – Enredo e história
God of War 3 começa no momento em que termina o 2° jogo. Ao voltar do passado, quando os Titãs perderam a Titanomaquia contra o Deuses do Olimpo, Kratos desafia Zeus e invade o monte Olimpo. Como precisa ser o desfecho de outra tragédia grega, a história se repete e o filho de um Deus poderoso o desafia. Para quem acompanhou o jogo, e conhece a mitologia, sabe que Chronus desafiou seu pai que perdeu e Zeus desafiou seu pai (Chronus), que também perdeu para o filho. Agora é Zeus quem precisa perder para o seu filho seguir adiante...
O jogador volta ao controle de Kratos nesse jogo e Guiado por Gaia aceita a ajuda dos titãs para destronar os Olimpianos. Com a possibilidade de destronar o Deus dos Deuses, Kratos provoca a ira deles, de novo. Subir o monte Olimpo significa enfrentar hordas e mais hordas de inimigos, servos dos deuses, enquanto alguns deuses tentam impedir a escalada. Como é de praxe, Kratos (o jogador) é quem sobe o monte...
Passa por diversos cenários, volta ao inferno (Tártaro) e derrota Hades. Volta a superfície e derrota outros deuses. Zeus com medo, prende Kratos dentro da escuridão e como deveria ter medo, encara o desconhecido, reencontra a Caixa de Pandora e liberta o maior poder interior dos mortais, a Esperança. Como Zeus (e os outros deuses) controla e manipula os mortais a partir do medo, Kratos encara o medo e vence.
3 – Mecânicas
God of War 3 é um jogo onde alguns gêneros se misturam porém um se destaca: pancadaria. Hack’n’Slash ou, bater e andar, é o mais forte dos gêneros porém as mecânicas de pulo em plataformas, escalada em parede, corridas e vôos são aplicadas em momentos específicos. Outras mecânicas como magias e ataques especiais aparecem com a progressão do jogo e conforme com o momento da história e a complexidade do combate exigirem.
No combate: socos, chutes, espadas, lanças, escudos, magias, objetos voando pelo cenário, pulos, agarrões, puxões, esquiva... São os movimentos que serão usados diversas vezes inclusive na mudança dos cenários pois o combate pouco muda.
A grande quantidade de inimigos em algumas das salas vão irritar enquanto os chefes de áreas são os que darão mais trabalho para achar o ponto fraco. Em contra partida, os inimigos comuns também irão atrapalhar o jogador a fazer o que precisa pois aparecem nos piores momentos. Até conseguir vencer todos, os inimigos irão aparecer de tempos em tempos (de sala em sala) constantemente.
Outra mecânica que precisa de atenção é o acumulo de orbs (esferas) vermelhos que todos os inimigos deixam ao serem derrotados. Quanto mais se acumula mais deles poderão ser usados para melhorar equipamentos, habilidades, magias e força dos movimentos que Kratos tem disponível para usar durante os combates.
Alguns movimentos só serão liberados quando determinados níveis de evolução do personagem forem liberados ou a melhoria da habilidade que o jogador consegue progressivamente no decorrer do jogo.
Em muitas salas os quebra cabeças aparecem e a solução deles, na maioria dos casos, ou tem algum item específico para usar ou é para derrubar uma parede determinada e chegar numa alavanca que abre uma porta e o caminho continua. Porém, em alguns poucos casos, os cenários estão interligados e uma ação determinada numa sala específica libera ou as plataformas, ou portas em outros locais para liberar a passagem de cenário. Nada difícil, apenas trabalhoso para ser resolvido. Requer um pouco de atenção e memória.
4 – Sonoplastia
O jogo é todo dublado. Os diálogos mostram como Kratos tem uma raiva profunda e elevada contra os Deuses e sua vingança é o ponto chave para a realização dela.
Athena, Afrodite, Zeus, Posseidon, Hades. Todos os personagens tem seus dubladores. Nos diálogos a passagem de determinados sentimentos pelos atores é surpreendente. Algumas vezes as frases que complementam a passagem de momento em outros mostram as motivações de cada um e os porquês deles, para realizar seus objetivos ou impedir a progressão do Espartano (o jogador), é espantosa.
Zeus sempre se mostra calmo e Hades nervoso e impaciente. Athena sempre se acha mais inteligente e uma incorrigível perfeccionista. Afrodite é uma oportunista. E dessa maneira os personagens vão aparecendo e mostrando suas intenções e motivações, com diálogos determinados para se encaixar no contexto geral e/ou do cenário vigente.
As músicas são poucas e repetidas no decorrer dos caminhos. Quando existe uma área mais calma (ou sem inimigos) a imersão é adaptada a esta música enquanto que no calor das batalhas a trilha sonora trabalha com ênfase aos obstáculos que o jogador está passando. Para complementar nas cenas de ação o tema de fundo é um dos mais pesados.
5 – Gráficos e Animações
Em relação aos originais de PS2 o salto gráfico foi enorme.
Em uma das pontas, as tecnologias usadas para reduzir o peso do conteúdo na mídia anterior foram liberados pela nova mídia (o novo BluRay) e mostrou como as escolhas da Sony foram boas o bastante para liberar espaço aos desenvolvedores. Na outra ponta, a produtora foi feliz por ter demonstrado conhecimento de produção escalonado a proposta do jogo. Um deleite.
O PS3 tem o processador Cell com a mídia de BluRay de 50GB enquanto os 8.2GB de espaço dos DVD DL do Xbox360 mostraram como um determinado espaço era importante. Significa que o Xbox 360 não tinha jogos grandes e memoráveis? Não, longe disso, mas aumentar o número de mídias podia encarecer o projeto. Felizmente nem sempre este valor era repassado, para sorte dos jogadores.
Graças a isso, inovações de projeto ocorreram que ficaram evidentes nas novas luzes, novas armas, novas animações do Kratos e dos inimigos, áudio mais nítido e alto, melhor qualidade das texturas, novas opções de movimentos e a destruição de cenários até então não imaginados, profundidade de câmera (mais coisas do cenário ficaram a mostra). Foram muitos detalhes ganhos que o console e a mídia anterior não conseguiriam entregar.
Como mera curiosidade, no remaster dos originais de PS2 (GoW e GoW 2), o ganho de qualidade saiu de 448p com variação de FPS para constantes 720p em 60FPS, um ganho e tanto. Com mais espaço e melhor tecnologia as câmeras nos cenários melhoraram a sensação de profundidade e a qualidade texturas foram expandidas. Desde as paredes e portas mais simples aos objetos e detalhes distribuídos no decorrer deles cresceram.
6 – Conclusão
É o desfecho da saga com chave de ouro. Mesmo curto, não mais que 12 horas, e sem muitos acréscimos, além dos conhecidos níveis de dificuldade e alguns segredos vinculados a uma arma ou item especial, junto ao que os outros jogos já haviam mostrado, esta incursão cumpre bem o papel de terminar o trabalho que foi começado anos antes. Poderiam tentar lançar para o PS2 com uma série de cortes gráficos porém a geração mudou e com ela o projeto também.
Em relação aos jogos de PSP a qualidade é muito maior. Em relação aos concorrentes da época, no console e numa mídia superiores mostraram o melhor trabalhado já feito, dentro do gênero, até God of War Ascention finalmente ser lançado, este é um grande jogo. Não chega a ser um épico grego mas é grandioso.
Consagrando o trabalho de uma equipe que cresceu com o passar das aventuras, mostra o quanto um console consegue reproduzir em poucos anos de vida. A junção de projeto e visão de longo prazo, vale o investimento. Para quem jogou os anteriores, deixa aquela sensação de, dever cumprido, para quem ainda não jogou, jogue todos, a saga é divertida.
O que torna a franquia cansativa é a não mudança de forma de jogar e conteúdo que os níveis mais difíceis deixam. Repetir a trajetória e tentar fazer speed runs nos maiores níveis é para quem tem carteirinha de fidelidade pois nada justifica repetir o jogo 3 ou 4 vezes.
Até o próximo jogo.
Ass.: Thiago Sardenberg
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