Para quem conhece a série clássica sabe que o desenho tem
certas particularidades que marcaram gerações. Por ter chegado ao Brasil na
metade da década seguinte, tanto por ser uma novidade quanto na questão do
desenho e na temática, o jogo, até certo ponto segue o roteiro original.
Tirando quase metade da trajetória original dos defensores de Atena, no quesito
fidelidade o jogo se mantém fiel a obra, entretanto devido a diversos fatores e
eventos da trajetória, o que era para ser uma extensão de conteúdo acaba por
ser não só um jogo de luta em 50% dele como 50% pancadaria. Uma mistura
equilibrada entre ‘God of War’ mas sem as escadas verticais ou paredes para
escalar e um pouco de ‘The King of Fighters’ com golpes espalhafatosos e muitos
efeitos visuais.
Gênero
Enquanto se atravessa o caminho das 12 casas do santuário, o
jogador passa pela escadaria de acesso a elas e se depara com uma série de
inimigos para ir se acostumando aos controles e as mecânicas básicas de pulo,
ataques, defesa e golpes especiais.
Com o passar dos inimigos, mais e mais hordas de numerosos oponentes
aparecem até chegar aos mais fortes para impedir a progressão. Como não é para
ser impedido, servem mais para o jogador se acostumar aos controles e a
dificuldade do jogo do que ser impedido de progredir (a proposta do jogo não é
ser mais um Dark Souls da vida).
Com isso, temos uma releitura fiel aos jogos da década de
1990 de Beat’em’Up quando um pequeno grupo de personagens deve enfrentar muitos
inimigos para seguir adiante no caminho antes de chegar ao chefe da fase.
Repetidas vezes até chegar ao final do jogo. Lembra bastante God of War.
Ao chegar na casa da vez, um cavaleiro de ouro espera pelo
jogador e nova batalha começa agora com alguém realmente forte. Os golpes
aprendidos no trajeto serão úteis e ao vencer o Dourado completa-se o desafio.
Durante 12 caminhos com 12 cavaleiros, mais o caminho até a
Sala do Mestre, o caminho do templo de Atena e o próprio templo de Atena, temos
um conjunto de mais ou menos 28 fases. A final de cada uma um contador de
pontos com Rank aparece, liberando o total e a experiência que foi adquirida na
respectiva fase. Ao passar de nível novas habilidades são apresentadas e o jogador
poderá distribuir esses pontos por determinadas seções para melhorar os
personagens.
Roteiro
No quesito fidelidade o jogo se mantém preso ao roteiro
original. Uma ou outra mudança acontece quando personagens tipo Marin e Shina (versão
Dark) são apresentadas, alguns cavaleiros de prata (versão original e Dark)
também dão as caras e os cavaleiros negros (sempre vilões) também são
apresentados. Isso ocorre geralmente no final do corredor de acesso a casa da
vez o que estende por pouco tempo a experiência de jogo.
É diferente da obra original mas acrescenta opções de jogabilidade
e complementa, de forma pontual, a história original. Mudanças pertinentes a
proposta do jogo porém peca no quesito diversidade, faltaram cavaleiros
emblemáticos como os outros cavaleiros de Bronze ou os de Prata que são marcantes
e não foram contemplados nesse jogo.
Fora os cavaleiros extras, Marinas de Posseidon ou alguns
Demônios de Hades, que são desbloqueados em novas partidas e vencendo os desafios
extras, esse sim vão dar algum trabalho pra liberar pois é preciso mais esforço.
Na questão dos combates contra os cavaleiros de ouro a
maioria segue o que ocorre na obra. Acontecem as cenas de abertura e contexto
das casas e os combates são divertidos. Ao terminar deixa aquela sensação de
dificuldade elevada em alguns personagens e muita facilidade em outros. Desequilibrado.
O ponto positivo foi ver o caminho de algumas casas
remontado contando o que não foi visto no seriado (ponto pro roteiro do jogo) e
alguns cortes sem necessidade em outros (como o fênix volta da morte depois
casa de peixes enfrentando gêmeos não foi explicado).
A fidelidade é tanta que até no desenho original, só na saga
de Posseidon, é revelado como o Dragão volta do céu na batalha de Capricórnio.
Nem isso aparece no jogo. Não mostrou como Dragão recupera a visão depois da
casa de Cancer e como os cavaleiros de Bronze passaram pelo desafio de Sagitário
(não existe no jogo). Falhas pontuais mas seguem o roteiro de forma fidedigna.
O final da batalha da casa de virgem também é fiel porém bem menos impactante.
O Tesouro do Céu não tem 75% do impacto que teve no seriado apesar de estar lá
também.
Sonoplastia
A dublagem original em japonês com as legendas em português do
Brasil foi um ótimo trabalho de localização. Para quem esperava dublagem
completa, ela não fez falta. É até interessante ouvir as vozes japonesas pois
quebra os erros de concordância que a primeira dublagem carregava sem
necessidade e só melhora no trabalho mais recente que foi relançado pela
Netflix no final de 2019.
Ouvir os nomes dos golpes originais e os diálogos das
personagens em japonês, para quem não está acostumado, pode soar estranho, mas
tem um ponto curioso... Alguns golpes são muito difíceis de serem falados
outros são traduções precisas e literais dos originais.
Alguns personagens, como todo bom jogo japonês, tem seus
momentos de gritos histéricos de alguns enquanto em outros sua vós é tão grave
e abafada que quase não aparece. Uma falta total de equilíbrio no som.
Ter a abertura do jogo com a música original Pegasus
Phantasy, ou algumas das casas sendo apresentadas com as músicas da série
clássica foi uma das melhores surpresas do jogo. O fator nostalgia bate forte
nessas horas.
Colecionáveis
O jogo é cheio de colecionáveis. Fotos, imagens, personagens
desbloqueáveis, golpes e mais golpes... Tem para todos os gostos.
Dividido entre modo história (a campanha) quanto no modo
desafios (alguns objetivos para serem realizados em condições específicas para
alguns cavaleiros de Bronze) o jogo tem a dificuldade selecionável entre fácil,
médio, difícil e muito difícil. Para quem gostar de desafios os níveis mais
altos podem agradar, pra mim o mais básico já serve pois só queria ver como é o
jogo do início ao fim.
A maioria, se não todos os troféus do modo história, são
desbloqueados em 1 partida rápida pois é preciso apensas seguir o caminho para
ir desbloqueando-os. São necessárias pouco mais de 7 horas pra zerar o jogo no
fácil e mesmo assim pode ser cansativo.
Para quem for caçador de prêmios os troféus de dificuldade
elevada podem fazer o jogo demorar lá suas 20 ou 30 horas com uma dose de esforço.
Conclusão
Para quem gosta de jogos de luta tem alguma chance de
conseguir jogar porém para quem gostar de Saint Seiya pode se sentir um pouco
perdido com tão poucas opções de golpes ou movimentos. Não é um RPG mesmo que
tenha elementos do gênero mas tem lá sua qualidade (não peca feio como foi o
caso do recente Jump Force).
Serve para agradar fãs de longa data e para quem quer algo
diferente, mas nem tanto, de Mortal Kombat, Street Fighters, The King of
Fighters ou Tekken. Passe longe se gostar de Soul Calibur pois não é um jogo com
mecânicas tão profundas assim. Se tiver apreço por Dragon Ball ou Naruto pode
ser o seu jogo de cabeceira.
Peça emprestado ou compre usado não custa o valor de um
novo, principalmente no Brasil com o dólar nas alturas.
Até o próximo jogo
Ass.: Thiago Sardenberg
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