terça-feira, 3 de julho de 2018

Beyond two souls – Entre Duas Almas – PS3


A empresa francesa Quantic Dream, vem realizando, a alguns anos, um trabalho excepcional em relação aos jogos digitais. Desde 2005 com Indigo Prophecy USA (ou Fahrenheit UE) no PS2, passando por Heavy Rain (de 2010) e chegando a Beyond two Souls (de 2013) no PS3, a proposta da empresa é uma boa alternativa entre os produtos que existem no mercado onde o tiroteio desenfreado ou a pancadaria exagerada imperam. Seu trabalho reflete em seus jogos a mistura equilibrada entre narrativas densas de um bom livro, a liberdade de escolhas que os jogos tem e um posicionamento de câmeras típicos dos filmes com propostas não tradicionais.

A história

O jogo conta a história de alguns personagens onde os principais são Jodie Holmes que é protagonizada por Ellen Page e Nathan Dawkins um cientista do governo que trabalha com Jodie para analisar os seus poderes, e age como um pai substituto através do jogo, que é interpretado por Willem Dafoe.


Jodie tem uma segunda alma em seu corpo (de nome Aiden que é explicado ao final da aventura) e durante o jogo o desenrolar da história é focado em como a vida dela desde a infância, até a profissional, passando pela parte amorosa é influenciada por essa segunda alma (detalhe este que sugere o nome do jogo, Beyond Two Souls, Entre Duas Almas).


O Cientista Nathan é focado em seu trabalho e sua pesquisa porém perde a noção dos limites de seu trabalho quando realiza seu maior sonho de rever seus entes queridos o que faz a protagonista se revoltar com o cientista e causa um desenrolar de problemas além do imaginado. Muitas mortes e sofrimentos ocorrem durante a aventura e mais por conta das ambições e desejos particulares de alguns personagens do que pela própria protagonista pois ela se torna vitima das intrigas secundárias do jogo (ou seja, o jogador é obrigado a fazer escolhas difíceis durante a maior parte da aventura).


A vida dos dois personagens, em diversos momentos, passa por situações críticas. Enquanto o cientista tenta “controlar” a protagonista, a protagonista cresce e se torna uma adolescente rebelde e revoltada pois não tem a possibilidade de viver sua vida como uma pessoa normal. Em determinado ponto, a protagonista conhece sua mãe, desaparecida desde o seu nascimento, e descobre outros fatos importantes sobre seu passado que definirão boa parte do seu futuro (no pós jogo, quando o final é uma série de escolhas sequenciais dado ao jogador e mostra o que irá ocorrer no futuro e que o jogador não poderá fazer nada para mudar).

Jogabilidade


A mecânica principal é dupla: 1ª controlar a protagonista (como um jogo com visão em 3ª pessoa tradicional onde a interação com os personagens e cenários ocorre) e 2ª controlar essa segunda alma (onde alguns quebra-cabeças, soluções de problemas, e sair ou prosseguir em determinados trechos de cenários passam por esse controle da segunda alma).

Com a protagonista o jogador irá interagir com diversos objetos, realizar missões fechadas e pré-determinadas da história do jogo, conversar com outros personagens para chegar ao final e se possível, até onde o roteiro da fase permitir, eliminar oponentes na base do tiroteio. Enquanto que com Aiden, a tal segunda alma, o jogador irá coletar informações específicas, verificar memórias das pessoas, controlar outros personagens, remontar parte das histórias de determinados eventos e irá causar certo alvoroço para muitos outros que não entendem (ou não enxergam) sua existência.

A parte divertida é causar o alvoroço na vida dos outros NPCs.

Gênero do jogo


É um jogo de investigação (tipo policial) e exploração dentro de uma aventura que em determinados momentos vira um plataforma como muitos outros. Tomb Raider, Uncharted, Super Mario, Remember Me e até mesmo Lords of Shadow e Darksiders fazem, porém cada um do seu jeito.
O que faz de Beyond Two Souls ser diferente (e altamente recomendado para quem está cansado dos exemplos citados) é uma série de mecânicas e interações pouco convencionais em jogos de aventura que a segunda alma proporciona.

Ao permitir ao jogador realizar ações de controle de outros NPCs, usa-los como bode expiatório ou assassino no meio dos vilões, e poder destrancar certas portas ou cofres e ouvir o que os outros personagens falam entre si ou pensaram antes de morrer, faz do jogo uma experiência pouco convencional.

Ao dar liberdade para usar a segunda alma ou a protagonista para resolver problemas (quando o jogador não for obrigado a usar apenas uma dessas duas opções) é algo a ser considerado futuramente pois abre caminho para novas opções de jogos que não foram exploradas até aqui.

Sonoplastia

Algo que chamou a atenção, desde a divulgação inicial do jogo, foi sua dublagem. Tanto os atores cederam suas feições para criar os personagens como também usaram suas vozes reais para dar vida a eles.

Ellen Page e Willem Dafoe fazem um trabalho pra lá de impressionante, até mesmo hoje, com a interpretação característica de suas personagens. Cada um tem seus trejeitos e tics nervosos que só bons atores são capazes de repassar para as personagens.


Nas cenas de tiroteio os sons das armas e o desespero da protagonista, no meio desse problema é sufocante. Os gritos da Jodie, desesperada com Aiden, para que ambas saiam vivas e se salvem deixa o jogador nervoso pois é bem imersivo enquanto o cientista Nathan Dawkins, ao ver e intervir, em determinados momentos, com as ações da protagonista demonstra o pesar e a preocupação que os personagens, graças aos seus atores, repassam de forma impressionante.

Nesses casos, e em muitos outros, Beyond Two Souls, faz um trabalho incrível de reinventar a realidade e se mantem fiel a ela mesma ao mesmo tempo que certos elementos de tecnologia e ficção cientifica, típicos de filmes futuristas, apareçam de forma esporádica devido ao roteiro.

Os sonos desses equipamentos, dos personagens malignos que aparecem durante a trama, as interações de Aiden com os elementos, os sons da realidade de uma casa familiar ou um apartamento com a possibilidade de interagir com os móveis ou no preparo de alimentos é algo que só um bom áudio iria proporcionar para gerar a imersão ao qual se propõe.


As partes de maior destaque ficam para os sonos dos veículos que determinadas fases fazem uso. O jogador pode controlar uma moto ou um carro, ou quando está dentro do helicóptero ou avião também escuta os sonos desses veículos. Explosões e diálogos com NPCs em línguas diferentes também é algo que impressiona pois é bem feito. A sincronia lábia impecável.

O jogo recebeu a localização para o português do Brasil porém joguei a versão americana então, não sei como ficou a dublagem nacional.

Troféus e curiosidades

O jogo tem seus troféus 46 distribuídos por todas as fases. É uma proposta single player porém existe a alternativa para usar a segunda alma, Aiden, como o segundo jogador (porém ele só garante um troféu que poderá ser liberado a qualquer momento do jogo pois é só colocar o modo 2 jogadores e começar qualquer fase para liberar o troféu mais fácil do jogo).


Tem em média duração de 20 horas para ser completado porém, se quiser platinar, irá precisar de mais tempo e, pelo menos, 2 jogadas (não completas) para se ter todos os troféus disponíveis.
O jogo foi refeito e relançado para PS4 numa coletânea onde o Heavy Rain também foi incluído no disco. Ambos são jogos foram feitos exclusivamente para as plataformas SONY. Desde o Heavy Rain o estúdio Quantic Dream é uma produtora exclusiva da SONY.


O jogo original também tem alguns bônus interessantes, trailers divertidos de serem vistos e a demonstração de outras ideias que não foram usadas até então.

O jogo seguinte da produtora é “Detroit Became Human” onde o estúdio criou um mundo futurista em que os humanos criaram robôs e estes robôs fazem uma diversidade de tarefas domésticas que os humanos não farão mais e esse é o pano de fundo para uma série de questionamentos que a proposta de jogo cria. Detroit é um exclusivo de PS4.

Conclusão


Para quem tem algum viés religioso, com uma tendência maior as vertentes não cristãs, é bom ter a cabeça aberta para algumas propostas de roteiro e interpretação da realidade fora do comum e que poucas pessoas irão aceitar de forma natural. Atenção nisso. O jogo em nenhum momento, influencia o jogador a pensar como os produtores pensam e vem a realidade, eles apenas deram uma visão alternativa do que é real e que é muitas vezes ignorada pela maioria que não aceita ou não entende certas interpretações (por N fatores e suas origens).

Tirando os fatores “religiosos”, como proposta de jogo é sofisticada e diferente de tudo o que já havia sido produzido. Tem influencias de diversas fontes (cinema, religião, ciência, Sy-Fy, TV) e não se limita a si própria para ser considerada uma obra prima da criatividade humana. Ao juntar elementos que, a princípio, não são agrupáveis, organiza e indica um caminho para se explorar e criar novas aventuras no mesmo sentido. Vale o quanto custa.

Até o próximo jogo
Ass.: Thiago Sardenberg

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