terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Formadores de Opinião

Quando falamos das mídias tradicionais como jornais, revistas, tablóides e outros feitos de papel, tinta, fotos e letras, estamos normalmente falando o que outros comentaram a alguns anos que “eles eram insubstituíveis”. Porém, no meio da evolução cultural e intelectual dos humanos, criamos uma "coisa" chamada tecnologia e com ela, criamos ferramentas e meios diversificados de nos mostrar como o mundo é feito, como a política é feita e como contar diversas histórias. Independente sobre qual período falamos, por qual pessoa ela é contada e em qual lugar essa história se passa, basta sabermos ler para entender o que está escrito nessas paginas e saberemos, a princípio, sobre qualquer assunto em vôga.

Quando falam dessas mesmas mídias como sendo as formadoras de opinião, fico vendo diversos meios de comunicação (culturalmente conhecidos como veículos de informação) não só informando seus leitores sobre o que está acontecendo no mundo mas também em como massacrá-los com a repetição exaustiva desses comentários e assuntos feitos nas capas e manchetes desses veículos está virando padrão.

Ou seja, por menor que seja essa "análise" simplista e direta do assunto,  estamos "vivendo" uma época da repetição de conteúdo e massificação das informações que já está, a muito tempo, cansando as pessoas. Coloco um ponto aqui e admito, tento ver as novelas, por mais diversificadas que elas sejam e em horários e origens bem diferentes, não dá mais. Elas falam sempre a mesma ladainha e o mesmo assunto, repetindo novela após novela, pra mim, as novelas são um ótimo veículo de emburrecimento do povo e que detem totalmente o controle dele por conta de só falar dos mesmos assuntos, todos os dias. Basta ver meio capítulo e já sabemos o problema que faz ela se arrastar, e depois de uns 6 ou 8 meses em exibição sabemos quem é o culpado, no final falamos “foi boa.” Foi BOA? Grande porcaria isso sim, mas não vem ao caso agora e esse também não é o assunto.

Voltando ao tema, outro dia estava eu, esperando o começo de uma aula (isso eram 7:40 da manhã de um sábado), vendo um Jornal diário do Rio de Janeiro e (como faço sempre) leio todas as informações da capa para saber, por alto, quais assuntos estavam em voga naquela edição. Quando me deparo com o primeiro caderno que peguei e reparei que estava uma das matérias de capa daquela edição. Começando a ler a capa, desse caderno, reparei que a manchete (do jornal inteiro) estava se repetindo. Aí eu pensei "bom, deve ser para os apressadinhos que passam a capa porque é só a capa e não um jornal" e continuei a lê-la. Quando ela acabou, passei para a página seguinte e continuei nas outras matérias quando me espantei com o problema. Todas as informações das capas e das manchetes estavam repetidas no corpo da matéria e pensei de novo "acontecer uma única vez, é um detalhe, só isso, mas acontecer no caderno inteiro? E quatro, cinco, seis vezes, completamente no jornal, aí é brincadeira não?" foi quando os colegas do curso chegaram e eu fechei o jornal para ir até a sala de aula.

Depois dessa aula, voltando para casa, ficou aquela sensação de de-já-vú desagradável nos pensamentos e quando me dei conta, percebi, o jornal que estava vendo na hora do almoço, estava falando a mesma coisa que o jornal lido, por mim mesmo, no inicio daquele dia, e era um assunto recorrente por conta de ter acontecido no dia anterior ao dia da leitura. Colocando as mãos na cabeça pensei "o que eu faço? Já estava com a sensação de matéria enganosa no jornal, todos os dias e ainda me vem com essa repetição extremista? E em rede nacional?" No final do dia aconteceu de não ter conseguido tocar mais no jornal e nem ter ligado a TV de novo para ver outras informações que poderiam ser mais relevantes e aí veio a chance de pesquisar alguma coisa na internet e na primeira matéria, pimba, outra vez, repetição do assunto. E foi em mais sites do que o esperado e em todos esses casos, apesar desses veículos não terem vínculos com outras mídias tradicionais para expressar a opinião deles, no entanto, estavam mostrando tudo o que as outras "empresas de comunicação" já haviam feito o dia inteiro. Que desagradável, ler um jornal, ver o jornal, surfar num jornal, e tudo tinha os mesmos comentários e conteúdo repetidos, tintin por tintin, assim não dá!

Pois bem, o porque de ter chegado a esse ponto e contado essa historia toda é um muito simples “quando é que nós, população e leitores, vamos ter o devido tratamento que merecemos das mídias que fazem a opinião de nossos leitores ser realmente importante?” Sei que as mídias tradicionais são sensacionalistas e exageradas para fazer as matérias terem visão do público leitor mas na atual forma que tem sido feitas, ta complicando um pouco o meio de campo por parte do excesso. Se formos pensar numa época, a pouco mais de 20 anos atrás, que não haviam recursos tão dinâmicos e rápidos para se passar as informações, até que estamos bem os motivos da repetição agora hoje continuar a fazer o que faziam a 20 anos atrás, controlando o que nós podemos ou não saber, fica revoltante.

Devido a visão clássica e consumada do tema, e até onde eu sei e concordo, Jornais e Revistas são, por natureza, "formadores de opinião" e depois dessa pequena e unilateral constatação, (acredito que tenha acontecido com outras pessoas e em diferentes locais) começo a ver que as mídias tradicionais estão nos fazendo de bocós ou burros porque podem. Demonstrar as opiniões alheias para exemplificar o problema e gerar uma “defesa natural” dele é fundamental e torna qualquer informação relevante suficiente para manter o interesse do público leitor nela porém repeti-la tantas vezes como foram feitas me pergunto: "pra que? Já foi mostrado em pontos diferentes do jornal, em paginas e matérias diferentes, pra que mais?"

E no decorrer das poucas paginas que consegui li tempos depois, estava só vendo a recolocação dessas opiniões e me conformei "o problema não é o jornal e sim, quando o público mostra uma opinião que condiz com a do próprio jornal". Quando ele próprio acaba por repassar, de maneira exagerada, o que outros fizeram anteriormente é um absurdo mas dessa forma, ser controlado pelos jornais ao ponto do público ter a mesma opinião? Dá medo!

Com o decorrer dos dias que se sucederam a esse pequeno "incidente" estava procurando algumas referências para terminar um trabalho da pós graduação que faço e aconteceu, de novo, de maneira repudiante, e em diversos outros sites, a mesma constatação: a repetição.

Foi quando decidi escrever sobre o tema e demonstrar o quanto me sinto idiotizado e burrificado por conta dos jornais que temos em circulação no nosso país. Felizmente existem os blogs na internet e a existência da própria podem mostrar parte da opinião desconsiderada da população informada que tem interesse em mostrar o que sabe ou o que pensa ser importante para todo o resto. Logicamente que corremos o risco de escrever coisas erradas ou equivocadas mas só o fato de poder demonstrar essa tão importante faceta da nossa massa pensante, já é um recomeço à possibilidade de avanço na maneira jornalística de fazer matérias mais inteligentes e informativas por parte dos redatores de jornais.

Publicado originalmente em 13-12-2010 no antigo blog
Thiago Sardenberg

2 comentários:

  1. Assistimos as mesmas cenas de catástrofe diversas vezes, e apesar de todo o sofrimento que isso gera, nos submetemos as mesmas imagens como se as tivessemos vendo pela primeira vez. Nos iludimos acreditando que esta é a melhor forma de nos sensibilizarmos, adquirindo experiências sobre os fatos reais desta vida e nos acomodamos, sentindo-nos satisfeitos com as informações repassadas e diante desse triste fato, evidentemente, aceitamos como verdadeiro e mais justo aquilo que nos é imposto pela mídia, perdendo com isso a maior riqueza herdada em séculos de formação social e cultural de nosso planeta: a comunicação mediante o uso da linguagem, responsavel, pelo menos 'no papel', pelo direito humano de impor sua propria opinião, desejos e valores. Mas como criar valores com uma midia manipuladora como a nossa??

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  2. Encaramos um jornal de domingo, por exemplo, muito mais como um informativo dos capitulos seguintes da nossa novela favorita e objeto de nossa inveja diante da vida e 'sucesso' alheios do que como um veiculo de informação que deveria servir como um dos responsaveis pela discussão de valores como honestidade, respeito ao proximo e base familiar como PARTE da solução dos maiores problemas agregados há anos pela sociedade e para a sociedade, mediante atitudes corruptas e mesquinhas.

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